Proama - Projeto Amamentar
O PROAMA
Visando integrar as várias entidades, profissionais e pessoas da comunidade interessados na defesa e incentivo ao aleitamento materno, foi formado o PROAMA - Projeto Amamentar. O projeto tem como sede a Unesp de Rio Claro, no Departamento de Educação, tendo além do interesse acadêmico da pesquisa e extensão à comunidade, o caráter de aglutinar forças para a defesa do aleitamento, de forma a garantir que todos os setores envolvidos com a questão da família do nosso município possam falar uma mesma linguagem e lutar pelo mesmo ideal. Tentar unir estes setores chaves, tem sido o nosso maior desafio. Além disso, acima de tudo, somos um grupo que representa os anseios da sociedade no que diz respeito às nossas necessidades de cidadãos. O PROAMA tem elementos de vários setores da sociedade e de diversas áreas, já que o aleitamento materno é uma área interdisciplinar, que envolve a medicina, a nutrição, a odontologia, a fonoaudiologia, a psicologia, a educação, a política, a economia, o direito, dentre outros.
Silvia Marina Anaruma - Depto de Educação-IB, Unesp Campus de Rio Claro Coordenadora do PROAMA
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quinta-feira, 30 de julho de 2015
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
“Seis meses: A primeira crise Vital… e os dentes”
Febre sem outro motivo: é dente. Choro excessivo: dente. Começou a acordar toda hora: certamente são os dentes. Não tira a mão da boca: dente. Baba litros: dente. Está com febre, diarreia, prisão de ventre, manha, insônia, birra: tudo é por causa do dente.
Coitado do dente! Esses ossinhos superestimados são responsabilizados por muito mais do que podem realmente provocar.
A vida do bebê corre tranquila entre mamadas, passeios e sonecas até perto dos 6 meses. Ali vai começar uma revolução – e justamente nesta época estão surgindo…. os dentes! Aí temos material pra muita confusão.
Veja como se configura a crise dos 6 meses:
1 – Desmame: o fator mais crucial. O bebê vai começar a se distanciar do seio materno, sua primeira e ainda principal ligação com a vida até então. Ele continua mamando no seio, mas vai começar a provar outros sabores, outras consistências, colher em vez de seio, cadeira em vez do aconchego dos braços e colo maternos… convenhamos que só esta perda/mudança que já é motivo bastante para um certo estranhamento e mal-estar. O dente não tem culpa.
2 – A boca, centro do mundo do bebê, vai começar a experimentar não só sabores diferentes, mas consistências diferentes: o pastoso, o sólido. Vai ter que deglutir em vez de sugar. Isso muda tudo – a língua, que sempre foi projetada pra frente, vai ter que ir para trás. Nossa, tudo muito estranho. E não é o dente.
3 – Posição: até aqui o bebê ficava em repouso na horizontal. Aos 6 meses ele começa a sentar. Veja que mudança radical: a perspectiva do mundo, que era horizontal, passa a ser vertical. O mundo vira de cabeça pra baixo, literalmente. Não, o dente não tem nada a ver com isso.
4 – Em nossa sociedade, neste momento a maioria das mães já terminou sua licença, já gastou suas férias, já usou os 15 dias de amamentação, já enrolou o patrão, e agora não tem jeito: vai voltar a trabalhar. Essa figura, que me gestou e me embalou e amamentou e cuidou até agora, vai sumir oito, dez, doze horas por dia. Me aparecem outras figuras meio estranhas por aqui: pai, avó, babá, tias… Se isso não é motivo para uma tremenda crise… e nada de dente.
5 – Creche: além de perder o contato com a mãe em boa parte do dia, muitos bebês nesta idade são colocados na creche. Ambiente estranho, cuidadores diversos, gente demais, vírus demais, comida esquisita, diferente lá de casa, outros bebês, atividades estranhas… e o dente é que é o problema?
6 – Aos seis meses começam a desaparecer os anticorpos maternos do tipo IgG, que foram transfundidos durante a gravidez e protegem o bebê das doenças que a mãe já teve. São a sua principal proteção nos primeiros meses, mais importantes que leite materno ou vacinas. Resultados: começam as doenças. Febres, mal–estar, diarreias, dores, incômodos, medos. E você achando que era o dente.
7 – Aos 3-4 meses se intensifica a fase oral do bebê. Ele adquire controle sobre as mãos e vai colocá-las na boca o tempo todo. O tempo todo. Quando ele pegar objetos, vai colocá-los na boca. O tempo todo. É sua tarefa, é sua condição inata, sua necessidade, é a etapa de seu desenvolvimento – e seis meses é o pico. E vai assim até em torno de um ano. Se ele não colocar a mão na boca tem algo errado. Isso tudo não tem nada a ver com dentes. Além disso, nesta fase o bebê produz litros de baba. O tempo todo. E nada disso tem qualquer relação com o dente. Aliás, é bom evitar tirar a mão dele da boca para colocar uma chupeta. E em vez do colar de âmbar, que pode causar acidentes como sufocação ou engasgo, melhor usar um mordedor apropriado.
8 – Nesta época há uma fase em que o sono do bebê fica mais superficial. Ele acorda mais vezes durante a noite: faz parte. Se ele está acostumado a dormir no berço, muitas vezes acaba voltando a dormir. Mas se só dorme no colo ou no seio materno, vai pedir o colo ou o seio a cada vez que acordar. (pense nisso quando ele tiver 3 meses…). De qualquer forma, não é o dente que o acorda.
9 – Aos seis meses o bebê está começando a vivenciar a formação do seu ego, de acordo com a teoria psicanalítica. Até aí ele, o mundo, papai e mamãe eram uma coisa só, tudo cabia dentro de si. Agora tudo passa a estar do lado de fora. O seu ego se delimita e se a mãe não está à sua frente, ela não está. Ela é ausência. Daí a tal angústia de separação, que surge um pouco depois, daí o estranhamento de pessoas não familiares, ou mesmo familiares. Quem não viveu (ou vai viver) a cena clássica do pai que entra no quarto da filha para acalmá-la e ela berra mais ainda, o grude na mãe, a constrangedora recusa do colo do avô? Tudo isso tem relação com o processo que se inicia nesta idade.
É possível que você já tenha se dado conta que atribuir tudo aos dentes é um tremendo simplismo. Então melhor pararmos de colocar geleinhas anestésicas à toa. Claro, quando os dentes surgem, podem causar incômodo, aumento da salivação, choro, irritabilidade, febrículas. Mas dificilmente são responsáveis por mais do que alguns distúrbios sem maior importância.
Por outro lado, a coisa mais importante em relação aos dentes a gente muitas vezes esquece: escovar. E a escovação mais importante é aquela feita antes do período principal do sono. É DEPOIS da ultima mamada ou refeição que devemos escovar os dentes da criança. Senão, ela fica com a lactose do leite (um açúcar) aderida ao esmalte no momento em que saliva menos (o sono). E a saliva é a principal proteção dos dentes. Especialmente se uma criança já tem dentes posteriores, e mama e dorme sem escovar, está em alto risco para a “cárie de mamadeira” – problema comum e bastante incômodo.
Pra terminar: podemos e devemos usar pasta de dentes com flúor desde o início. A Academia Americana de Pediatria, uma importante autoridade mundial no campo da saúde da criança, acaba de publicar as seguintes recomendações:
- dentifrício fluorado é recomendado para todas as crianças a partir da erupção dentária;
- uma pequena quantidade, do tamanho de um grão de arroz, deve ser usada da erupção até os 3 anos. Depois de 3 anos de idade, uma quantidade do tamanho de uma ervilha.
- os pais devem colocar a pasta na escova e realizar a escovação.
Vamos então colocar os dentes em seu devido lugar, a boca, e escová-los do jeito e na hora certos.
Enquanto isso, compreender as dimensões da crise dos seis meses permite que você ajude seu bebê a atravessá-la com mais tranquilidade, fazendo dela uma etapa bem vivida de seu desenvolvimento físico, mental e emocional.
Texto escrito por Dr Daniel Becker e retirado do site Amamentar é...
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
RACHADURA E DOR NO SEIO?
Rachadura no seio é muito ruim. A dor pode ser insuportável e fazer a mãe desistir de amamentar. O que fazer?
São rachaduras. Elas podem acontecer na base do mamilo, no bico do mamilo, na lateral do mamilo ou em várias localizações ao mesmo tempo. Deixam o mamilo extremamente sensível, causando muita dor durante a amamentação. Às vezes a dor é tão intensa que a mãe chora durante a mamada.
As fissuras ocorrem quando os profissionais de saúde falham em orientar corretamente as mães ou quando as mães não têm interesse nas orientações. O resultado é uma pega incorreta durante amamentação, a utilização de produtos que ressecam a mama ou então outros fatores que levam às rachaduras. A pega incorreta é o principal vilão. Quando o bebê pega errado, o peito sai machucado.
- Pega incorreta durante a mamada.
- Uso de produtos que causam ressecamento.
- Uso impróprio de bombas de sucção.
- Finalização inadequada da mamada.
Há várias coisas que você pode fazer para aliviar a dor e evitar que a situação piore.
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Caso não esteja obtendo melhoras, procure um ginecologista, não demore muito para procurá-lo. Quanto mais cedo você começar a tratar, mais fácil e mais rápida será a recuperação.
Alguma Dúvida? Entre em contato conosco proama.amamentar@gmail.com
O texto foi retirado do site: Como Amamentar
terça-feira, 7 de outubro de 2014
“A armadilha da mulher maravilha”
A quarta e penúltima parte da nossa saga sobre amamentação.
- Nasce um bebê no Xingu. Todas as mulheres da oca se mobilizam. A mãe está cercada de cuidados e apoio.
- Nasce um bebê no sertão das Minas Gerais. A avó, a bisavó, as tias, a prima cercam a mãe de cuidados.
- Nasce um bebê numa aldeia africana. Numa tribo em Maui. Numa cidadezinha no interior da Tailândia ou da Polônia ou da Inglaterra – a cena se repete. Na favela da Zona Norte as vizinhas e a tia que mora na laje de cima se encarregam de ajudar. E nas mansões dos jardins? Não são mais a avó e as vizinhas, mas as duas babás, a enfermeira, a faxineira, o motorista e o segurança.
Nasce um bebê em Copacabana, no apartamento 1104. A avó está trabalhando em tempo integral. O pai só tem cinco dias de licença. A vizinha do 1103 não só não ajuda, como sequer conhece, e ainda reclama do choro noturno. E a empregada diz que só ganha pra cuidar da casa. Ajudar à noite, nem pensar.
E aí temos esse fascinante fenômeno social: a única mulher do planeta que é deixada pra cuidar de um bebê sem nenhuma ajuda é a da classe media, urbana, ocidental. Pior: ela achava que ia conseguir…
Mas essa onipotência (culturalmente induzida, claro – e muitas vezes socialmente exigida…) só dura até o 5o dia, quando muito. Na segunda semana a mulher percebe que um bebê demanda demais. Precisa de atenção 24 horas, permanente. Que os intervalos do sono não são suficientes para que ela viva: descanse, almoce, tome um banho, respire, olhe pela janela, durma meia hora, atenda ao telefone, responda um email. E os cuidados muitas vezes exigem duas pessoas. Sem ajuda, é virtualmente impossível. A amamentação facilita e muito o cuidado, já que não é preciso tratar de mamadeiras, latas, esterilizadores e bicos. Mas é preciso tempo e descanso para produzir leite. É o clássico bordão, muitas vezes ignorado: um bebê só ficará bem se sua mãe estiver bem. Em alguns momentos, é crucial que a mãe volte a ser mulher – um indivíduo separado de sua filha, que precisa descansar, se cuidar, relaxar, pensar em outras coisas. Ela precisa desses momentos como o bebê precisa do seu leite.
Por isso, é preciso que tenhamos menos onipotência, e que reconheçamos que vamos sim precisar de ajuda. Para isso, é necessário planejamento: quem vai ajudar, como, quando. O pai vai segurar a onda nas noites? Até quando? A avó pode mesmo ajudar? E os conflitos que tantas vezes surgem nesse momento? Uma coisa é apoiar, acolher; outra, se intrometer ou criticar – fronteira sutil e muitas vezes rompida de forma inconsciente e perversa. A empregada vai cuidar da casa? Vai ter comida pronta? O patrão vai respeitar e não ligar para falar de trabalho?
Nos dias de hoje, a situação se complica ainda mais. Em nossos tempos hiper-conectados, de distrações múltiplas e permanentes e com enorme apelo, é dificílimo estarmos concentrados em uma tarefa. Muitas vezes a futura mãe se ilude e acha que vai amamentar, trocar fraldas, ver a novela, passar email de trabalho, estudar para o concurso e postar no Facebook, ao mesmo tempo, já nos primeiros dias de vida do recém nascido.
E como se a situação em si já não fosse complicada o suficiente, aparecem outros obstáculos: o marido quer ensinar a colocar o bebê no seio (com a melhor das intenções), dizendo que ela está fazendo errado; a mãe (avó do bebê) diz “mas o que custa dar uma mamadeirinha, ele chora tanto”; as amigas dizendo que pra elas foi muito simples, que fizeram assim ou assado e que você está fazendo tudo errado; a prima exibicionista cujo bebê dorme bem, mama bem e “não dá nenhum trabalho”…. e a sociedade toda dizendo que se você não consegue amamentar seu bebê e cuidar dele integralmente, é porque não tem competência.
Reproduzo aqui um depoimento da Chris Nicklas em seu site “Amamentar é…” que descreve essa situação de forma muito concreta e emocionante:
“Tantas pessoas entraram na minha casa com a intenção de ajudar! Nossa, nem sei dizer… Quantas realmente me ajudaram? Conto nos dedos!
Qual será o problema? Por que é tão difícil se abrir para enxergar o que o outro precisa?
Me recordo de uma situação em específico. Eu com o mamilo esquerdo inflamado sofrendo por ainda sentir dores no aleitamento materno, apesar dos meus filhos já estarem com três meses. As pessoas passando por mim dizendo barbaridades do tipo:
- É assim mesmo, vai calejar…
- Dê a mamadeira! Olha o que você está fazendo com você mesma, pra quê?
- Dê o peito assim mesmo! Não pode estar doendo tanto assim!
As horas passando e o meu desespero aumentando. Minha consulta médica já estava marcada. Mal eu sabia que estava com sapinho e por isso voltava a ser dolorido amamentar. Meu estado emocional não me permitia enxergar um palmo na frente do nariz!
Muito bem, numa certa altura chega minha sogra em casa. Me olha e fica devastada com o meu estado. Minha cara era de puro desconsolo. De repente ela me lança a seguinte pergunta:
- Minha filha, o que você precisa? Me diga o que fazer para te ajudar…
Meus olhos se encheram de lágrimas. Uma pergunta tão simples e tão rara de se ouvir.
Ficamos ali nos olhando, enquanto meu coração transbordava de tantos sentimentos e emoções.”
O que a mulher precisa no momento da amamentação é apoio de verdade. Apoio aberto, honesto e atento. Ela não precisa de crítica, ensinamentos verticais, lições de moral ou prescrições autoritárias. Muito menos de conselhos sobre mamadeiras. Ela precisa de espaço psíquico, tempo e um mínimo de estrutura para se dedicar ao bebê. E de apoio técnico, prático, de que falaremos mais adiante.
Aliás, esse é um importante papel que o pai pode exercer nesse momento da vida familiar, o nascimento de um filho. Tão ou mais importante quanto trocar fraldas, ninar e dar banho, é garantir que o binômio mãe-bebê vai ter paz e tranquilidade para se conhecer, se conectar, evoluir em direção a um bom desenvolvimento e a uma amamentação bacana. Para isso, cuidar da casa, e garantir que esteja em ordem; comida na geladeira e contas em dia; atender o telefone e dar conta dos palpiteiros; receber as visitas e oferecer as desculpas pois a mamãe agora está descansando… e estar atento às necessidades da sua mulher.
Gosto de comparar a família neste momento do ciclo vital com o átomo: no núcleo central, mãe e bebê recém nascido – próton e nêutron – numa relação de simbiose e magnetismo. Em torno deles, o elétron, não diretamente envolvido na troca nutritiva mas fundamental no equilíbrio de energias, nas trocas afetivas, no cuidado com a família.
No próximo e último capítulo: o campo de possibilidades – tudo pode acontecer entre uma mãe e seu bebê. Reconhecendo sua posição é possível encontrar a ajuda apropriada. E a gama de possibilidades de apoio à lactante no Brasil é das melhores do mundo.
Escrito por Dr. Daniel Becker e retirado do site: Amamentar é
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
A anatomia oral do bebê
Encontrei no YouTube este vídeo que explica e demonstra através de uma ilustração a anatomia oral do bebê recém nascido, provando que há características nela que foram criadas especialmente com o objetivo de aprimorar o mecanismo de ordenha durante as mamadas.
Como o vídeo é narrado em inglês eu fiz uma tradução para que todos entendam seu conteúdo. Vejam abaixo:
“O leite materno beneficia o bebê de diversas maneiras, fornecendo o equilíbrio certo de nutrientes, ajudando a protege-lo contra doenças e infecções e possivelmente ajudando no desenvolvimento do cérebro. Muitas das características físicas do seu bebê foram desenhadas para ajudar a amamentação. A mecânica de sucção exige o maior contato possível entre a língua do bebê, e o osso do seu maxilar, e a mama da mãe. Para maximizar este contato a língua do bebê é larga em comparação com o tamanho de sua boca, e as bochechas contém gordura, que ajudam a manter a língua na posição adequada para a ordenha. As mesmas almofadinhas de gordura também asseguram que as bochechas não afundarão durante a mamada, o que reduziria o tamanho da boca e a pressão negativa necessária para extrair o leite da mama para dentro da boca.
As vias aéreas superiores de um recém nascido, através das quais o ar entra e sai dos pulmões, também colaboram com a amamentação.
As vias aéreas superiores de um recém nascido são muito curtas e a epiglote, um tecido em forma de aba que fica na base da língua e que impede o alimento de descer pela traqueia, toca o tecido macio no fundo do teto da boca. Essa combinação de características físicas ajudam a direcionar o leite para o esôfago, que leva até o estômago e reduz o risco do leite descer pela traqueia, e também leva o bebê a esticar o pescoço o que leva o maxilar inferior para frente para aumentar o contato com a mama.”
Retirado do site: Amamentar é...
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Doula particular no SUS – É ilegal, imoral ou engorda?
A reunião foi interessante porque esbarramos, mais uma vez, em uma pedrinha que vira e mexe entra no sapato das ativistas: existe algum impedimento jurídico ou ético para que uma mulher, que vai parir pelo SUS, contrate uma doula particular e a leve para prestar seus serviços no hospital?
Este é um imbróglio recorrente em BH por causa do Sofia Feldman. Aqui é cada vez mais comum que as mulheres de classe média abandonem seus planos de saúde para ter seus nenéns no Sofia, que é referência nacional em parto humanizado. Estas mães querem ter ao seu dispor as melhores evidências, por isso, não abrem mão das doulas que as acompanham desde a gestação… Algumas vezes isto causa certo mal estar no Hospital. As pessoas indagam: é possível pagar por um profissional que vai me atender dentro de um estabelecimento público? Isto não seria ilegal, ou antiético?
Resolvi analisar os argumentos mais comuns, para dar minha contribuição à discussão. Vamos lá?
1 – Existe dupla cobrança?
Todos nós já ouvimos algum caso bizarro sobre um médico do SUS que recebeu “por fora” da gestante para fazer uma cesárea eletiva, ou realizar uma laqueadura. Isto, além de ser indecente, é crime, descrito no Código Penal*. Quando vamos discutir a questão da doula particular atendendo em hospital público é comum que as pessoas contrárias à medida usem este exemplo, como se houvessem semelhanças. Não há absolutamente NADA em comum, basta refletir um pouquinho.
A doula particular não é funcionária pública. Ela não recebe nada do SUS, não tem vínculo com o Estado. Sua relação profissional é apenas com a mulher que a contratou. Sua remuneração vem única e exclusivamente do particular. Em regra, o Hospital nem mesmo oferece o serviço que ela presta.
Não há dupla cobrança, vez que Estado não está sendo onerado em nem um tostão. A doula só recebe uma vez, da mulher que a contratou.
2 – As doulas particulares criariam desigualdades entre os usuários do SUS
Nós vivemos em uma sociedade capitalista que é, por definição, desigual. O SUS não é um microcosmo igualitário dentro da nossa realidade. Obviamente, o Sistema não pode fornecer privilégios e benefícios a uma pessoa em demérito de outra, mas não tem como impedir que as desigualdades sociais estejam presentes entre as pessoas que usufruem dos seus serviços.
Quer um exemplo? Maria e Joana pariram na mesma maternidade pública. O bebê de Maria está vestindo a roupinha do hospital, ela está usando os lençóis da instituição para secá-lo, as fraldinhas que foram fornecidas pelas enfermeiras. Joana trouxe de casa toalhas e lençóis, um macacãozinho especial para o neném usar da maternidade. Ela trouxe lanchinhos de casa e o marido está trazendo suas refeições. Maria e Joana estão na mesma enfermaria, um leito do lado do outro.
O argumento que defende que a presença de doulas particulares criaria “desigualdade” no SUS é ingênuo, porque estas diferenças já existem. O Sistema Único de Saúde foi concebido para atender toda a população brasileira e somos uns dos países com a maior diferença entre pobres e ricos no mundo.
3 – As doulas particulares tumultuariam o ambiente hospitalar
Doulas, por definição, servem às mulheres. Estão no ambiente do parto para ampará-las, confortá-las e, na nossa realidade violenta, protegê-las. Isto as conflita com equipes hospitalares violentas.
Quando uma mulher chega a um hospital brasileiro com uma doula, ela já está se diferenciando das demais. A mensagem é clara: “estudei, conheço as evidências científicas, quero parir, não vou ser enrolada por argumentozinhos mequetrefes.” Já na porta, ela deixa de ser a “mãezinha”. Isto faz com que seu atendimento seja melhor pensado, mais cuidado. Todo mundo pensa duas vezes antes de fazer bobagem na frente de testemunhas. Atender bem dá trabalho mesmo. Rever os protocolos, adaptá-los às evidências, sair da zona de conforto, tratar com empatia e carinho é mais difícil do que colocar todo mundo na vala comum.
Doula tumultua. Isto é ótimo.
4 – Doulas fornecidas pelo hospital seriam eficientes
As melhores evidências são obtidas pelo atendimento de doulas quando a profissional não faz parte do staff institucional. A razão para isto é óbvia: o compromisso da doula deve ser com a mulher, não com o hospital. Se ela é a doula “da Maternidade X” e não “da Fulaninha”, o negócio vai mal.
A doula é uma testemunha qualificada e importantíssima em um eventual processo judicial, já que, na sala de parto, quando ocorrem abusos, todas as outras pessoas são vítimas (a mulher e o acompanhante, que é alguém do seu círculo mais íntimo) ou autores e cúmplices (já que estão violentando ou permitindo que se violente). Uma doula com o perfil descrito nas melhores evidências – que não é amiga nem parente da mulher, e não tem vínculo com o hospital – é isenta o suficiente para depor sobre os fatos. Se a doula é funcionária da maternidade, ou está ligada a ela por um vínculo de voluntariado, este valor se perde. Como denunciar as condutas da Dra. Sicrana ou da EO Beltrana, se amanhã podem demiti-la, ou simplesmente, cassar seu cadastro para trabalhar?
Toda mulher tem direito a doula, de sua livre escolha, no SUS ou na Rede Suplementar. Não há impedimentos jurídicos para que uma usuária leve a sua doula ao hospital público. Não é imoral, nem ilegal, mas engorda. Engorda a vigilância, a vontade de melhorar, ensina a tratar com empatia e a respeitar as evidências.
Imoral, ilegal ou engorda by Léo Jaime on Grooveshark
Agora é mobilizar para transformar!
* Crime de corrupção passiva (quando a gestante oferece o dinheiro ao médico), ou como concussão (quando ele se oferece para realizar serviço “fora do pacote)
Retirado do site: Vila Mamifera
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Nova pesquisa comprova que leite materno reforça o sistema de defesa
Em experimentos com macacos, cientistas dos EUA constatam que ser alimentado pela mãe nos primeiros 6 meses de vida deixa o filhote mais resistente a infecções e a doenças autoimunes
O leite materno é considerado a fonte mais ideal de nutrição para bebês e desempenhou papel fundamental na evolução e no desenvolvimento dos humanos. Isso porque exerce uma forte influência sobre bactérias no intestino, necessárias para o desenvolvimento do sistema imunológico. A diferenciação das estruturas de defesa a partir desses micro-organismos pode acontecer desde os primeiros dias de nascimento. Para testar essa teoria, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), observaram como a microbiota intestinal se diferencia entre filhotes de macacos rhesus amamentados e aqueles que receberam uma fórmula substituta.
Os dois grupos de cobaia foram alimentados de forma distinta durante seis meses, e mais seis com a mesma dieta regular. O grupo de cientistas liderado por Amir Ardeshir demonstrou, no fim de um ano, que os macacos lactentes e os que tomaram mamadeira desenvolveram sistemas imunológicos marcadamente diferentes e que as dessemelhanças permaneceram durante pelo menos seis meses após os animais começarem a receber comidas idênticas. Os resultados, divulgados na edição da última quinta-feira (4) da revista Science Translational Medicine, podem explicar, em parte, a variação da suscetibilidade humana a condições de saúde com base imunológica, como doenças autoimunes, e a proteção variável contra doenças infecciosas.
“Nós demonstramos que a dieta infantil tem efeitos profundos e duradouros sobre a microbiota intestinal de macacos, o desenvolvimento do sistema imunológico e os perfis de metabólitos (frutos do metabolismo de moléculas ou substâncias) no sangue e nas fezes”, resume Ardeshir. Segundo ele, as conclusões são uma prova importante para a compreensão das respostas imunológicas variáveis à vacinação e à infecção, e das diferentes propensões para o desenvolvimento de enfermidades autoimunes.
SAIBA MAIS...
· 54 dias: a média brasileira de aleitamento materno exclusivo é baixa
Marisa da Matta Aprile, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, ressalta a validade de ter estudos em mamíferos não humanos que podem ser submetidos a ambientes mais limitados quanto à oferta de alimentos. “Quando fazemos um paralelo do estudo com os humanos, há essa dificuldade de aplicar uma dieta rígida, como eles fizeram. Eles deram um leite não materno para a cobaia com o intuito de ver qual seria o impacto na microbiota, nos fatores de defesa. Trabalho paralelo e semelhante no leite humano a gente não tem até por questões éticas.”
Aprile, porém, acredita que os resultados alcançados provavelmente se repetem entre os humanos, já que o organismo do macaco rhesus é extremamente parecido. A especialista observa que, no caso desse estudo, o fenômeno de observar benefícios inicialmente em cobaias pode se inverter, uma vez que já são percebidas na raça humana evidências dos fatores de proteção do leite materno. “Temos estudos que falam da prevenção da diarreia, da proteção contra doenças respiratórias e infecções, como a pneumonia. Até mesmo em problemas que toda a criança tem e que há uma incidência menor entre as amamentadas.”
Leite materno é uma substância viva com bactérias “do bem”!
Segundo ela, o sistema imunológico do leite humano já é muito conhecido por médicos e cientistas. O líquido beneficia o surgimento de uma colonização de bactérias no intestino chamado probiotas, que agem na digestão dos açúcares da alimentação e são degradadas em água e oxigênio. “O oxigênio é um fator de proteção para doença intestinal, e quem faz isso é a flora.”
Também em humanos
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, a cada novo estudo que aparece em relação ao leite materno, mais um conhecimento se soma à gama de benefícios que garantem a superioridade do aleitamento. Além das questões emocionais, como o vínculo de mãe e filho, os fatores orgânicos relacionam o hábito à melhoria de células nervosas, ao amadurecimento do sistema imune e a uma resposta mais robusta frente a infecções. Kfouri detalha que, definitivamente, o aleitamento vai induzir respostas diferenciadas no sistema imunológico.
“A população de células imunes produzidas no nosso corpo é dependente da composição da microbiota intestinal, especialmente nos primeiros anos de vida, em que o desenvolvimento desse ciclo de resposta é modulado por essa colonização intestinal”, explica. Kfouri acredita também que, do ponto de vista biológico, é completamente plausível imaginar que o fenômeno observado nos macacos se reproduza em humanos. O especialista lembra uma área em ascensão na pesquisa científica que busca a “programação” do sistema imune. “Na primeira infância, há a oportunidade de desenvolvimento do sistema imune por meio da alimentação.”
Segundo Kfouri, é como se o indivíduo fosse capaz de “treinar” as suas estruturas de defesa para ter um futuro metabólico, alergênico e de respostas imunes com maior intensidade. Dessa forma, a introdução dos alimentos e a microbiota de crianças alimentadas no seio trazem benefícios para a saúde do bebê que, provavelmente, se estendem ao longo da vida. “Hoje, fala-se, inclusive, que começa antes mesmo de o bebê nascer, na vida intrauterina. A dieta da mãe e tudo o que o bebê é exposto vão impactar na saúde, no metabolismo e nas alergias, talvez, pelo resto da vida.”
Nessa direção, o especialista reforça a importância dos primeiros mil dias, que começam com os nove meses da gestação e seguem até os primeiros dois meses de idade, para essa programação imune.
Retirado do site: Aleitamento.com